domingo, 31 de outubro de 2010

Liga Legacy Gárgula [Report|3-2-1] Parte 1 - "A Viagem"

Volto da segunda ronda da Liga Legacy da Gárgula cheio de ideias e motivação. Verifico o blog cuja actividade foi interrompida por motivos pessoais. Nada actual. Nada como eu queria que fosse - um espaço onde deixo os meus pensamentos para poder reanalisá-los e que eventualmente sirvam a quem os leia.

Já não jogava competitivamente há uns meses. Soube bem pegar naquele cartão novamente. Parece que não perdi assim tanto o jeito, fazendo 3-2-1 com um brew feito durante a semana para o metagame observado na ronda anterior da Liga. Cometi, em todo o torneio, um erro estratégico e dois erros pontuais que não me custaram jogos. Não é uma má média.

Fui com o resto da Team Mystical Tutor (ou Team Benfas), perfazendo: 1 Zoo [1-2 Drop], 1 Ichorid [5-1, 2º lugar], 1 Burn [3-2-1] e 1 Mono-Blue [eu, 3-2-1]. Connosco veio um ex-membro da equipa.

Quem nos visse às 14:30, às voltas por Amadora e às 14:40 já na Pontinha, não diria que conseguíssemos jogar Legacy neste dia. Felizmente, graças ao kasas e ao Soulz, foi-nos dado mais uns minutos para chegar a Odivelas.

Passo a explicar: Somos todos de Setúbal e nenhum de nós, nunca, foi a Odivelas, muito menos à Gárgula. Quem ficou de trazer uma impressão do Google Maps, coincidentalmente a minha pessoa, esqueceu-se. Perguntámos ao nosso caro condutor se sabia ir lá ter, e uma resposta afirmativa e confiante confortou-nos. Saímos de Setúbal às 13:00, em direcção a Odivelas.

Ter sido convocado para ocupar o lugar do meio de trás de um Peugeot 106 pequenino e antiguinho já era mau, mas ponham dois matulões com mais de 1.80m e 90kg cada ao meu lado e sendo o da esquerda uma recentemente descoberta máquina de flatulência, e temos a viagem perfeita. Eu precisava de ser passado a ferro quando, quase duas horas depois, finalmente saí daquele carro.

Fomos pôr gasolina e seguimos, fazendo planos de última hora, a ouvir Pantera, Audioslave e Trivium, eu a levar com a convexão de vento de duas janelas no focinho e tão apertado que nem um peidinho conseguia dar. Passamos a primeira saída para Odivelas, ao que eu aponto e recebo um "não é nesta". Passamos a segunda e eu, convencido que o condutor sabia o que estava a fazer, nem a mencionei. À terceira já disse "ainda não é nesta?" e a confiança a que já estava habituado não se manteve. Não obtive resposta. O carro começa a abrandar. As placas só mencionam Sintra e Cascais.

Já não jogo Legacy hoje.

Entramos num novo troço com portagem e por esta altura já toda a tripulação se apercebe do que se está a passar. Começa o melhor jogo de Magic que eu já vi na minha vida.

Primeiro turno, Brainstorm. Não se encontram respostas. Lá para o meio do jogo há um stack complicado que envolve um Divert e um Misdirection. Todas as Force of Will foram Extirpadas.

Acabamos por seguir caminho para Belas, e ainda hoje estou a tentar perceber se foi por, como o condutor afirmou, ser "perto de Odivelas" ou se porque simplesmente tem um nome parecido.

Belas é um fim do mundo pacato. Demasiado pacato.

A insistente recusa em parar em algum lado para pedir indicações podia ter sido hilariante em qualquer outro cenário, mas aquele carro era uma jaula para quatro jogadores que precisavam de ser alimentados pelo Magic. Cada um lidava com a situação da melhor forma: emborcando coca-cola já sem gás, rindo, levando as mãos à cabeça ou preocupando-se apenas em sair daquele carro porque foda-se, já não aguentava mais.

De Belas, por uma estradinha cujo engenheiro ou estava bêbedo ou era o Sócrates, fomos ter à Amadora.

Amadora é um fim do mundo assustador.

Tirando o mais pútrido flatus que já tive a infelicidade de cheirar na vida, Amadora apenas deu lugar ao esmorecer geral da esperança ao passar das 14:30. Ligo ao Soulz, que já está na Gárgula e nos informa que as inscrições estão a acabar, dizendo-lhe que estamos perdidos, mas a caminho. Um dos passageiros lá joga um Breakthrough e acedemos à Internet por um curto espaço de tempo, o suficiente apenas para indicar a estrada que devíamos seguir e confirmar que estávamos a dar uma volta enorme e desnecessária. Breakthrough é a comparação correcta, porque esse conhecimento durou instantes e foi tudo com o caralho no final do turno. Ficámos com o seguinte: é necessário encontrar o IC-17.

Da Amadora fomos ter à Pontinha. E se Belas é pacata e Amadora é assustadora...

Pontinha é um fim do mundo cuja única relevância é ter estação de Metro.

Depois de dar duas voltas ao que aparentemente era a localidade inteira, decidimos, num Stroke of Genius, ir de metro da Pontinha a Odivelas. O mapa revela que é mesmo ao lado. Tal é o nosso espanto quando verificamos que, para fazer esse percurso aparentemente tão simples, precisamos de percorrer a linha azul inteira, ir até ao Marquês de Pombal, apanhar a linha amarela e segui-la na totalidade até Odivelas. O Metro pode ser muito bom, mas para chegarmos a tempo teríamos que atravessar uns bons quilómetros de rocha. Esta hipótese foi completamente abandonada e, em vez disso, perguntámos a transeuntes metropolitanos como ir para Odivelas... de carro. À terceira tentativa, uma senhora lá nos deu indicações.

"Sempre em frente."

Well, thanks.

Corremos para o carro e peço ao Soulz para perguntar ao kasas se podia alargar o tempo das inscrições. Com uma resposta positiva, respiro de alívio mas preocupo-me se, caso não cheguemos, terei feito trinta-e-tal pessoas esperar por nada.

Seguimos sempre em frente. A esperança inicial arde cá dentro e está a começar a desaparecer quando, por fim, uma placa, a placa mais bonita que já vi na minha vida, um pentágono que aponta numa direcção e tem, circunscrito: Odivelas.

Cinco homens gritaram que nem cinco meninas, dentro daquele carro. E gritámos sempre que vimos mais uma placa a apontar na direcção correcta. O nosso carro, de fora, fazia barulho de Fórmula-Um mas o motor eram os gritos. Deixámos os habitantes locais a pensar que vinha aí um tornado.

Chegámos a Odivelas, a cidade com, sem sombra de dúvida, mais sinais de proibição de trânsito de sempre. Descobrir onde se podia ir já era complicado, quanto mais tentar chegar a uma loja específica que não fazíamos ideia de onde ficava. Aí apercebemos-nos do próximo desafio: encontrar a Gárgula. Gritos passam a apostas sem fundamento sobre para onde ir. Apesar da dor-de-cabeça, preferia os gritos. Resolvemos parar perto de um café e perguntar pela estação de Metro de Odivelas, porque tínhamos um palpite que a Gárgula ficava perto da estação. Telefonamos pela terceira vez ao Soulz, indicando onde estamos a partir de nomes de restaurantes e cafés, mas é inútil.

Com muito esforço e duas contra-ordenações graves depois (raio dos sinais de sentido proibido), avistamos a estação de Metro e, ao mesmo tempo, telefona-me um número que o meu telemóvel não identifica.

É o kasas. Ele vê o nosso carro e diz para estacionarmos. Saímos à vez daquela sobre-lotada lata de sardinhas e, ao fundo, pessoas. Pessoas com malas, pessoas a olhar para coisas nas mãos, pessoas a conversar. É Magic.

Chegámos.

To be continued...